O (in)sucesso escolar é apontado por
pais e professores como uma das maiores preocupações e desafios pedagógicos
dos tempos atuais - para além de ser visto como uma medida preditora do
bem-estar presente e do êxito futuro, é também fonte de pressão e ansiedade
para uma grande parte das crianças e jovens, desde tenra idade.
Atualmente,
para além da transmissão dos conteúdos pedagógicos, a comunidade educativa tem
como preocupações adjacentes o combate da exclusão social, a oferta de
igualdade de oportunidades educativas, a preparação dos jovens para o mercado
de trabalho e a promoção do sucesso académico (e/ou a diminuição do insucesso e
do abandono escolar precoce).
O
insucesso académico surge então como foco das preocupações dos pais e
professores e pode ser definido como a dificuldade do estudante em corresponder aos objetivos (metas
curriculares) traçados pela escola e pela família, para o seu percurso
educativo. Este insucesso vai muito para além dos resultados académicos
obtidos, uma vez que envolve também fatores como a atitude dos alunos face à
escola, o seu grau de motivação para as tarefas letivas, o tempo despendido e
os hábitos de estudo, a sua autoestima e autoconceito académico, a ansiedade
com que lidam com as atividades escolares e, consequentemente, o seu bem-estar
pessoal e vocacional. Envolve também sentimentos de incapacidade, de baixa
autoestima e de fracasso generalizado e, desta forma, os baixos resultados são
vistos como uma barreira que dificulta significativamente o processo de
crescimento e de ensino-aprendizagem dos alunos, não só numa perspetiva
académica como também individual e social.
Em
muitos casos, o insucesso está correlacionado com casos de indisciplina e
abandono escolar precoce que se espelham nas várias transgressões, às normas e
aos limites impostos pela comunidade escolar entre o que é e o que não é permitido
nos espaços de aprendizagem, cometidas pelas crianças e/ou pelos jovens.
O
insucesso pode surgir também como manifestação de descontentamento ou como chamada
de atenção no seguimento de situações-problema externas à escola. Este pode
ainda encapotar questões de instabilidade e sofrimento emocional, que por
dificuldades de expressão em idades mais precoces ou por vivências emocionais
mais intensas, são manifestadas através de comportamentos desajustados. Em
ambos os casos é fundamental que os adultos cuidadores procurem perceber o que
está por detrás da falta de rendimento satisfatório de modo a poder chegar ao
foco da questão que o despoleta e definir estratégias para alterar a situação.
Nesse
sentido, um dos desafios da comunidade educativa é desenvolver planos de
atuação que favoreçam o sucesso pessoal e académico através de um ambiente
motivacional positivo, que incentive a aprendizagem e que promova a curiosidade
e a vontade de aprender.
Sucesso em família
Os
pais e encarregados de educação, enquanto exemplos e pontos de apoio, têm um
papel preponderante nas várias valências da conduta dos filhos, nomeadamente no
seu desempenho académico. Neste sentido, o suporte e monitorização do percurso
escolar dos seus educandos é essencial: mais do que críticas, sugestões ou
conselhos é fundamental que sejam transmitidos modelos assertivos e
construtivos (por exemplo, mais do que incitar a um comportamento pouco ansioso
nos períodos de avaliação é essencial transmitir-lhes uma postura calma e
confiante).
Os
modelos comportamentais construtivos devem ser complementados com um discurso
otimista e de valorização pessoal, procurando transmitir mensagens de
encorajamento (“se te esforçares vais ver que és capaz”) ao invés de mensagens
de ameaça (“se não tiveres 80% vais ver o que te acontece”) ou de desânimo (“a
continuar assim não vais conseguir de certeza”). Embora o sentido das frases
possa ser idêntico, um discurso positivo incita o esforço e a dedicação pessoal
e, consequentemente, a persecução de objetivos mais satisfatórios.
O
desempenho escolar é ainda condicionado, entre outros fatores, pelo medo de
falhar ou de não obter os resultados desejados. Deste modo, é fundamental que
os pais alertem para a importância de preparar os momentos de avaliação
atempadamente e fomentem um clima de calma e confiança especialmente durante
estes períodos.
Estratégias
para fomentar o sucesso académico
Embora cada situação seja única e irrepetível, há
algumas estratégias que podem favorecer atitudes de sucesso:
- elaborar uma boa planificação tendo em conta a forma
como cada um gere o seu tempo ao longo da semana, o seu ambiente de estudo e o
modo como redige bons apontamentos.
- dialogar sobre as situações menos funcionais,
adequando as palavras e procurando estratégias conjuntas para a sua resolução;
- diferenciar as situações de aprendizagem, indo de
encontra às necessidades individuais de cada criança/jovem;
- valorizar os comportamentos corretos e ajustados
(mesmo que frequentes);
- responsabilizar a criança/jovem pelas suas
aprendizagens e pelos seus comportamentos;
- dar feedback construtivo e definir
metas ajustadas às capacidades de cada aluno;
-
gerir as expetativas de aprendizagem e valorizar o esforço;
-
atuar prontamente nas situações menos ajustadas, com calma e firmeza
-
explicar a importância do esforço para alcançar o sucesso;
-
educar para a independência e autonomia;
-
não facilitar o trabalho da criança;
-
ter tempo e paciência;
-
motivar a criança e apelar á sua ativação e participação.
É fundamental
consciencializar as crianças e os jovens sobre a importância da escola e do seu
envolvimento no processo de aprendizagem de modo a cativá-los e a
responsabilizá-los pelo seu processo educativo. Ao assimilarem a importância
que a escola tem na sua construção e na aquisição de ferramentas essenciais
para o seu futuro, é mais fácil diminuir os comportamentos de desinvestimento e
aumentar o empenho e a motivação dos alunos face às suas aprendizagens.
Texto escrito para o Congresso Dificuldades na Aprendizagem
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