sexta-feira, 13 de novembro de 2015

(in)Sucesso Escolar

O (in)sucesso escolar é apontado por pais e professores como uma das maiores preocupações e desafios pedagógicos dos tempos atuais - para além de ser visto como uma medida preditora do bem-estar presente e do êxito futuro, é também fonte de pressão e ansiedade para uma grande parte das crianças e jovens, desde tenra idade.  

Atualmente, para além da transmissão dos conteúdos pedagógicos, a comunidade educativa tem como preocupações adjacentes o combate da exclusão social, a oferta de igualdade de oportunidades educativas, a preparação dos jovens para o mercado de trabalho e a promoção do sucesso académico (e/ou a diminuição do insucesso e do abandono escolar precoce).
O insucesso académico surge então como foco das preocupações dos pais e professores e pode ser definido como a dificuldade do estudante em  corresponder aos objetivos (metas curriculares) traçados pela escola e pela família, para o seu percurso educativo. Este insucesso vai muito para além dos resultados académicos obtidos, uma vez que envolve também fatores como a atitude dos alunos face à escola, o seu grau de motivação para as tarefas letivas, o tempo despendido e os hábitos de estudo, a sua autoestima e autoconceito académico, a ansiedade com que lidam com as atividades escolares e, consequentemente, o seu bem-estar pessoal e vocacional. Envolve também sentimentos de incapacidade, de baixa autoestima e de fracasso generalizado e, desta forma, os baixos resultados são vistos como uma barreira que dificulta significativamente o processo de crescimento e de ensino-aprendizagem dos alunos, não só numa perspetiva académica como também individual e social.
Em muitos casos, o insucesso está correlacionado com casos de indisciplina e abandono escolar precoce que se espelham nas várias transgressões, às normas e aos limites impostos pela comunidade escolar entre o que é e o que não é permitido nos espaços de aprendizagem, cometidas pelas crianças e/ou pelos jovens.
O insucesso pode surgir também como manifestação de descontentamento ou como chamada de atenção no seguimento de situações-problema externas à escola. Este pode ainda encapotar questões de instabilidade e sofrimento emocional, que por dificuldades de expressão em idades mais precoces ou por vivências emocionais mais intensas, são manifestadas através de comportamentos desajustados. Em ambos os casos é fundamental que os adultos cuidadores procurem perceber o que está por detrás da falta de rendimento satisfatório de modo a poder chegar ao foco da questão que o despoleta e definir estratégias para alterar a situação.
Nesse sentido, um dos desafios da comunidade educativa é desenvolver planos de atuação que favoreçam o sucesso pessoal e académico através de um ambiente motivacional positivo, que incentive a aprendizagem e que promova a curiosidade e a vontade de aprender.

Sucesso em família
Os pais e encarregados de educação, enquanto exemplos e pontos de apoio, têm um papel preponderante nas várias valências da conduta dos filhos, nomeadamente no seu desempenho académico. Neste sentido, o suporte e monitorização do percurso escolar dos seus educandos é essencial: mais do que críticas, sugestões ou conselhos é fundamental que sejam transmitidos modelos assertivos e construtivos (por exemplo, mais do que incitar a um comportamento pouco ansioso nos períodos de avaliação é essencial transmitir-lhes uma postura calma e confiante).
Os modelos comportamentais construtivos devem ser complementados com um discurso otimista e de valorização pessoal, procurando transmitir mensagens de encorajamento (“se te esforçares vais ver que és capaz”) ao invés de mensagens de ameaça (“se não tiveres 80% vais ver o que te acontece”) ou de desânimo (“a continuar assim não vais conseguir de certeza”). Embora o sentido das frases possa ser idêntico, um discurso positivo incita o esforço e a dedicação pessoal e, consequentemente, a persecução de objetivos mais satisfatórios.
O desempenho escolar é ainda condicionado, entre outros fatores, pelo medo de falhar ou de não obter os resultados desejados. Deste modo, é fundamental que os pais alertem para a importância de preparar os momentos de avaliação atempadamente e fomentem um clima de calma e confiança especialmente durante estes períodos.

Estratégias para fomentar o sucesso académico
Embora cada situação seja única e irrepetível, há algumas estratégias que podem favorecer atitudes de sucesso:
- elaborar uma boa planificação tendo em conta a forma como cada um gere o seu tempo ao longo da semana, o seu ambiente de estudo e o modo como redige bons apontamentos.
- dialogar sobre as situações menos funcionais, adequando as palavras e procurando estratégias conjuntas para a sua resolução;
- diferenciar as situações de aprendizagem, indo de encontra às necessidades individuais de cada criança/jovem;
- valorizar os comportamentos corretos e ajustados (mesmo que frequentes);
- responsabilizar a criança/jovem pelas suas aprendizagens e pelos seus comportamentos;
- dar feedback construtivo e definir metas ajustadas às capacidades de cada aluno;
- gerir as expetativas de aprendizagem e valorizar o esforço;
- atuar prontamente nas situações menos ajustadas, com calma e firmeza
- explicar a importância do esforço para alcançar o sucesso;
- educar para a independência e autonomia;
- não facilitar o trabalho da criança;
- ter tempo e paciência;
- motivar a criança e apelar á sua ativação e participação.

É fundamental consciencializar as crianças e os jovens sobre a importância da escola e do seu envolvimento no processo de aprendizagem de modo a cativá-los e a responsabilizá-los pelo seu processo educativo. Ao assimilarem a importância que a escola tem na sua construção e na aquisição de ferramentas essenciais para o seu futuro, é mais fácil diminuir os comportamentos de desinvestimento e aumentar o empenho e a motivação dos alunos face às suas aprendizagens. 
Texto escrito para o Congresso Dificuldades na Aprendizagem