A
gravidez, o parto e a educação dos filhos foram, durante muito tempo, tarefas destinadas
unicamente às mulheres, das quais os homens eram socialmente excluídos e
apartados. No entanto, ao longo dos últimos anos, o papel
do pai tem vindo a ganhar importância, sendo atualmente visto como uma peça
fundamental para o desenvolvimento equilibrado e harmonioso dos seus filhos.
E a tarefa
de ser pai não começa apenas após o nascimento. Desde que o casal descobre que
engravidou que o pai deve assumir um papel presente, ativo e construtivo, não
só procurando estabelecer a relação com o bebé ainda in útero: mexendo na
barriga da mamã e falando com a criança, por exemplo; como também apoiando a
companheira e partilhando com esta os vários momentos da gravidez: desde a
primeira ecografia, até ao nascimento do tão esperado bebé.
Este
envolvimento é particularmente importante se tivermos em consideração que um
pai que participa ativamente, juntamente com a companheira, na gestação do
filho faz com que o casal esteja mais motivado para desenvolver competências cognitivas
e relacionais em família, tendo por isso maior probabilidade de vivenciar as
várias etapas desta experiência de forma positiva.
De entre
as várias etapas da gravidez, uma das mais cruciais e aguardadas é o momento do
parto: finalmente os pais vão poder agarrar o seu bebé, embalá-lo e olhar para
ele. É um dos momentos mais intensos da vida do casal em que este se confronta
pela primeira vez com as expetativas que foi criando ao longo de 9 meses sobre
o seu bebé e as características que ele realmente tem após os vários meses de
gestação. O parto é então o início de uma longa caminhada para o bebé e para os
pais, fora do conforto do colo materno.
O papel do
pai durante o parto também tem vindo a sofrer alterações ao longo dos últimos
anos especialmente na nossa cultura. Se durante muitos anos o parto era um
momento exclusivamente feminino em que o pai ficava confinado aos corredores do
hospital a aguardar ansiosamente o primeiro choro do filho, nos nossos dias a
maioria dos pais opta por ultrapassar a barreira da sala de partos e presenciar
o nascimento do seu bebé.
E se é
inegável a importância da mãe ser acompanhada por uma pessoa significativa ao
longo do parto, que lhe proporcione apoio
emocional e que permita que esta se sinta acompanhada, nem todos os homens se sentem preparados para desempenhar
este papel junto da companheira.
O papel do
pai como acompanhante e fonte de apoio é relativamente recente na nossa
sociedade, A sua presença,
aquando do momento do nascimento do bebé, tem sofrido inúmeras controvérsias e
muitos ainda se estão devidamente preparados e motivados para assistir
ao momento do nascimento e fazer face às expectativas das companheiras. Sem dúvida
que as aulas de preparação para o parto são um contributo indispensável, uma
vez que ensinam estratégias que funcionam como facilitadores da preparação dos
homens para apoiar a companheira no trabalho de parto e permitem ao casal esclarecer
um sem número de questões em torno desta (e de outras) matéria.
Embora a
maioria das maternidades e hospitais apoie e incentive a presença do pai na
sala de partos, nem todos os casais optam pela sua presença no momento do
nascimento, sendo fundamental que o casal converse abertamente sobre as suas
dúvidas e receios e que veja até que ponto a presença do pai é um desejo de
ambos. E é essencial respeitar o desejo de ambos!
O
desentendimento no que toca a esta matéria não deve desapontar nenhum dos dois
– o nascimento de um filho deve unir o casal e não apartá-lo ou ser motivo de
discussões.
No caso de
a companheira optar por estar sozinha (por, por exemplo, achar que o pai só
iria atrapalhar) ou ter por companhia alguém que já passou por essa experiência
(como a sua mãe ou uma grande amiga), o pai deve esforçar-se por perceber e
procurar envolver-se nas demais situações de preparação do parto.
Caso o pai
não deseje assistir, é muito importante que a mãe respeite essa posição. Para
alguns homens é extremamente penoso, podendo chegar a ser traumático, assistir
a um momento em que quer a companheira está sujeita a um elevado sofrimento, e
toda a beleza do significado do nascimento é suplantada pelas imagens de
angústia e ansiedade do parto em si.
O trabalho
de parto nas suas várias etapas (o rebentar das aguas, as contrações, a
respiração, o nascimento do bebé, o cortar do cordão umbilical, entre outras),
são momentos em que a maioria dos homens se sente pronto à-vontade, podendo
também experienciar sensações de desconforto, frustração e impotência diante
das condicionantes e da dor da companheira.
Os relatos
de experiencias menos bem-sucedidas, bem como as cenas das telenovelas e dos
filmes que retratam a parte dolorosa e penosa dos partos são muitas vezes dois
dos fatores que aumentam o receio do pai em estar presente. E se por um lado é
importante falar abertamente das situações que mais o poderão perturbar nessa
altura no sentido de diminuir os seus possíveis “fantasmas” também é
fundamental respeitar a sua decisão a bem de não criar maior tensão entre o
casal. É ainda importante referir que o facto de o pai não estar presente não
vai condicionar o seu desempenho futuro como pai.
A presença
do pai na sala de partos deve ser uma mais-valia e não um obstáculo que
dificulte o momento. Lembrem-se que
a chave do entendimento é o diálogo e que o nascimento de uma criança não deve
ser fator de discórdia mas de união.
Se o pai já decidiu que não quer estar presente deve:
- falar do
assunto o quanto antes, adiar só vai criar falsas expetativas e dificultar
ainda mais a conversa;
- ser sincero
quanto aos seus motivos sem medo de expor as suas fraquezas, medos e
inseguranças face ao momento do parto;
- não usar
falsos argumentos que podem facilmente ser percebidos e só vão criar desarmonia
entre o casal;
- apoiar e
estar presente nas demais situações, partilhando os momentos que antecedem e
precedem o nascimento;
- encorajar
a sua companheira a encontrar estratégias para que lide com a situação sem a
sua presença;
- encontrar
outra pessoa do círculo próximo de confiança que presencie o parto, se assim
decidirem.
Mãe, é importante que:
- aceite
as razões do seu companheiro, procurando respeitar os seus argumentos;
- valorize
os seus medos e receios tentando encontrar resposta para os mesmos;
- procure
uma pessoa da sua confiança e estima que a possa acompanhar ao longo do parto,
se achar preferível;
- envolva
o seu companheiro nos demais momentos da gravidez – é fundamental que o pai
esteja presente e a acompanhe a si e ao bebé.
O nascimento de uma criança é muito mais do que as
horas na sala de parto, é uma tarefa que começa com o planeamento da gravidez e
que se estende para toda a vida.
Mesmo decidindo não assistir ao parto é fundamental
ser ativo no papel de pai, estando presente nas ecografias, nas aulas de
preparação e nas consultas de obstetrícia e estando envolvido nas decisões que
possam aparecer ao longo da gravidez.
Um pai presente tem ainda a oportunidade manifestar as
suas dúvidas e receios e encontrar respostas para as mesmas de modo a sentir-se
mais seguro e confiante no seu novo papel.
Artigo publicado na revista Mãe Ideal (Nov 2012)