A família é responsável pelas principais relações,
cuidados e estímulos necessários ao crescimento e desenvolvimento saudável de
cada criança, principalmente durante a primeira infância.
A família, enquanto primeiro contacto da criança
com o seu contexto (afetivo, cultural e social), é o modelo das suas
aprendizagens e das normas e valores necessários à sua formação como pessoa. É
na família que a criança encontra os primeiros “outros” e é através da relação
que estabelece com eles e da observação do seu comportamento que vai aprendendo
a agir e a interagir com o mundo à sua volta – são as dinâmicas familiares das
quais a criança faz parte que lhe permitem construir o seu esquema conceptual,
isto é, a forma como compreende e atribui significado aos pequenos pormenores
do seu dia-a-dia.
Ao longo do seu desenvolvimento, é com base no que observa no seio
familiar, que vai aprendendo a descortinar o mundo e a interagir com ele,
imitando reações, comportamentos e expressões dos vários elementos da sua
família em situações idênticas às que se encontra - cada um dos elementos da
família funciona para a criança como um modelo a seguir ou um exemplo a copiar.
As interações que estabelecem com a família
alargada desde tenra idade são fundamentais na construção da sua visão sobre o
mundo e sobre si própria, permitindo-lhe interiorizar noções de autoestima e
autoconceito necessárias para descobrir o seu meio com confiança. Desde que
nasce, demonstra uma capacidade inata para aprender e apreender o mundo a sua
volta e quanto mais estimulante for o contexto no qual está inserida, mais estável
e construtiva será a sua formação. É fundamental que os vários familiares,
principalmente os pais, disponham de um tempo afetivo e efetivo, que lhes
permita estabelecer o vinculo emocional, transmitir parâmetros de comportamento
e ajudar a criança a desenvolver a sua autoconfiança e a sua autoestima uma vez
que a sua capacidade de aprender está intimamente ligada às experiências que
vão vivenciando e aos laços de afeto que vão estabelecendo com os seus adultos
de referência (mãe, pai, avós, tios …) bem como às expectativas que estes detêm
sobre a criança.
As normas e valores que vão sendo demonstrados à
criança pelos seus adultos cuidadores durante a infância serão a base da sua
formação enquanto pessoa e estarão latentes até à vida adulta, dirigindo e
modelando o seu comportamento ao longo da vida. Desta forma, cada
família é responsável pelo desenvolvimento global da criança (comportamental, emocional
e cognitivo) e deve estimular o seu crescimento e a sua maturação e dando-lhe
ferramentas que permitam que se desenvolva de forma adaptativa e saudável.
São as relações que estabelece no seio da família
que permitem à criança sentir-se amada e protegida de modo a que cresça emocionalmente
equilibrada. Estes valores e afetos influenciam a forma como se entende com os
outros, os amigos que escolhe, o tipo de pessoas com que se relaciona e a sua produtividade
na vida escolar, acadêmica e profissional. A construção da autoconfiança desde
pequena interfere diretamente na auto perceção das suas aptidões e habilidades
e a impulsiona a batalhar pelo êxito na vida escolar e, posteriormente, na vida
adulta. Se a relação familiar for harmoniosa, há maior probabilidade de a
criança construir uma autoestima positiva e procurar caminhos de sucesso do que
se a relação for conturbada ou deficiente. Neste ultimo caso, algumas crianças
aprendem muito cedo a não aprender ao serem pouco estimuladas ou desvalorizadas
no seu processo criativo e curioso de exploração do mundo.
A família
desempenha ainda o papel de mediadora entre a criança e a sociedade,
possibilitando a sua socialização, elemento essencial para o desenvolvimento cognitivo
infantil. A experiência familiar permite ou não que a criança desenvolva um
processo de aprendizagem e adquira um conjunto de competências que vai utilizar
no exterior, em situações que exigem que assuma um papel e estatutos
semelhantes.
Estilos e práticas
parentais
As
crianças são o reflexo da educação que lhe vai sendo transmitida ao longo dos
seus anos de formação e dos estilos parentais levados a cabo pelo seu circulo
familiar durante todo esse processo. De entre os vários estilos parentais é
possível salientar o permissivo, o autoritário, o negligente e o autoritativo.
O
estilo permissivo pode ser caracterizado por padrões pouco exigentes, com
limites escassos e com baixos níveis de controlo e de exigência e pais muito
presentes, afetuosos e que procuram dar resposta às necessidades da criança.
Frequentemente, dada a ausência de regras bem definidas, estas crianças
tornam-se jovens pouco estruturados e muito dependentes dos pais.
O
estilo autoritário carateriza pais rígidos e controladores que educam com base
no medo e na punição. Frequentemente este estilo forma jovens depressivos e
submissos, com pouca iniciativa ou jovens agressivos e com dificuldade em
estabelecer relações construtivas com os outros.
O
estilo negligente é caracterizado pela ausência de promoção da independência e
responsabilização, em que os pais apresentam, de modo geral, comportamentos
frios, desligados, indiferentes e pouco acessíveis, que não investem, nem
estimulam os filhos. As crianças fruto de um ambiente negligente são,
habitualmente, pouco estruturadas e demonstram dificuldades em compreender e
seguir as normas sociais, bem como em lidar com outras pessoas.
O
estilo autoritativo é tido como aquele que promove os melhores níveis de
ajustamento nas crianças, quer a nível emocional/psicológico como a nível
comportamental. Este estilo é caracterizado por comportamentos parentais firmes
e racionais, que estimulam a autonomia, a confiança e a competência de forma
consistente através da explicação e reflexão conjunta (que favorece a
internalização de normas) como por comportamentos responsivos e afetuosos.
Não existe no entanto um manual que ensine como se
funciona em família ou como se é pai e mãe. É fundamental que a família se
consciencialize que é responsável pelo desenvolvimento daquele ser e pela
construção dos seus alicerces. Um desenvolvimento saudável pressupõe um
conjunto de laços vinculativos muito fortes a partir dos quais as crianças retiram
as bases de que vão necessitar para todas as demais aprendizagens. Qualquer que seja
a sua estrutura, a família mantém-se como o meio relacional básico para as
relações da criança com o mundo.
Estratégias
para potenciar relações construtivas
-
Procure programas em família. Passeios, picnics, idas ao
cinema e a museus são ótimas oportunidades de quebrar com a rotina e passar
algum tempo em família.
-
Valorize o tempo de qualidade (vs de quantidade). É
fundamental que tire algum tempo da sua rotina para estar mesmo com a sua
criança, brincar com ela, responder às suas questões ou contar-lhe uma história
(desligue a televisão, afaste jornais e revistas e tire o som do telefone se
for necessário).
-
Introduza pequenos jogos nas rotinas, que sejam
estimulantes e divertidos. Os jogos, para além de melhorarem as habilidades
cognitivas e sociais das crianças, favorecem o sentimento de família e a
relação entre os vários elementos.
-
Fomente os valores familiares. Procure, nos pequenos
momentos do dia-a-dia, valorizar as relações familiares envolvendo a criança
nessas interações – escreva cartas ou emails aos familiares mais distantes (a
criança poderá fazer um desenho para enviar), telefone ou tire algum tempo para
um almoço em família alargada ao fim de semana.
-
Demonstre os princípios e valores que quer que a sua
criança adquira. As crianças aprendem pelo exemplo e a melhor forma de a
ensinar é demonstrando-lhe o que quer que ela aprenda.
Uma criança fruto de um ambiente tranquilo, cercada
de carinho e amor e balizada por regras e limites bem estruturados, terá uma
maior probabilidade de vir a ser, no futuro, um ser humano mais seguro e
confiante.
Artigo publicado na revista Mãe Ideal (Fev, 2013)