O
cérebro humano vai estabelecendo ligações neuronais ao longo de toda a vida,
podendo estas ser potenciadas através de atividades de exercitação e de
estimulação cognitiva.
Ao longo dos últimos vinte anos, a pesquisa
sobre o cérebro e sobre o seu funcionamento têm sofrido um avanço
significativo. Autores como Byrnes e
Fox (1998) destacam o impacto que estes
avanços têm despoletado no quotidiano, nomeadamente no que toca à estruturação
das aprendizagens e à compreensão da dinâmica dos
processos de pensamento.
Com
o aumento dos conhecimentos neste domínio, o cérebro tem-se tornado tema
recorrente em conversas, notícias de revistas e artigos online, permitindo a cada sujeito criar ideias e tecer opiniões
relativamente a esta questão. Muito deste conhecimento não é devidamente
aprofundado dando lugar a “conceções errôneas” sobre o funcionamento do cérebro
que, segundo a OCDE (2003) são classificadas como “neuromitos”. Um “neuromito”
pode definido como uma ideia ou opinião que não é fundamentada pelo
conhecimento neurocientífico sendo, por isso mesmo, errada (Abimbola &
Baba, 1996).
De
entre os vários “neuromitos” existentes, há três que se destacam: a existência
de períodos críticos, a conceção hemisfério esquerdo vs hemisfério direito e a
utilização limitada do cérebro.
O
conceito de períodos crítico tem por base a ideia de que a plasticidade
cerebral, isto é, o desenvolvimento e a aquisição de competências específicas
(como a linguagem e o raciocínio) está limitada aos primeiros anos de idade
sendo impossível, adquirir essas competências posteriormente. Contudo, pesquisas
contemporâneas defendem a possibilidade dos estímulos ambientais despoletarem
novas ligações entre os neurônios e, consequentemente, evidenciam que a
plasticidade não é limitada aos primeiros três anos mas que ocorre ao longo de
toda a vida, alterando a conceção de “período crítico” para “período sensível”
(período em que é mais fácil conquistar certas aprendizagens, sendo possível
que essas capacidades sejam desenvolvidas posteriormente).
A
ideia de separação funcional do cérebro em hemisfério esquerdo e hemisfério
direito, atribuindo a cada um deles um modo de funcionamento próprio com
funções específicas separadas tem também sido contraposta. Estudos recentes têm
demonstrando que a cognição humana é demasiado complexa para ser controlada por
um único hemisfério e que existem redes neuronais em constante comunicação em ambos
os hemisférios.
O
terceiro “neuromito” prende-se com a limitação do funcionamento da atividade
cerebral a 10% do cérebro sem que haja, no entanto, evidências científicas que
confirmem este fato – de acordo com os conhecimentos disponíveis, o nosso
cérebro funciona a 100%, sendo pouco provável que a evolução permitisse o
desperdício de recursos necessários para estruturar um órgão tão ineficiente e apenas
parcialmente usado (Beyerstein, 2004).
É
ainda de referir, como outro possível “neuromito”, que as lesões cerebrais não
são permanentes, isto é, após a existência de um dano
cerebral é possível haver recuperação das vias nervosas afetadas, dependendo do
local em que ocorre e da severidade da lesão. A explicação deste fato prende-se
com a capacidade que o cérebro tem em desenvolver novas conexões, direcionando
as funções afetadas para outras áreas saudáveis.
Sintetizando,
é de salientar que o treino e a estimulação cognitiva potenciam
a plasticidade cerebral, aumentando o êxito dos sujeitos nas várias tarefas e
melhorando a eficácia do funcionamento cognitivo (Cartwright, 2001).
-
Realize diariamente exercícios divertidos que estimulem as competências
cognitivas;
-
Faça pequenas pausas para relaxar (10 a 15 minutos) entre as atividades que
exigem alto nível de concentração;
-
Fomente a leitura diária começando com pequenos textos, que deverão,
progressivamente, aumentar em tamanho e em grau de complexidade;
-
Incentive a aprendizagem de um instrumento musical ou a realização de
atividades desportivas;
-
Estimule a realização de atividades de uma forma inovadora e diferente – novos
desafios são envolventes
Outras leituras de referência
Abimbola, I. O., Baba, S. (1996). Misconceptions &
alternative conceptions: the role of teachers as filters. The American Biology
Teacher, 58(1): 14-19
Cartwright, J. H.
(2001). The evolution of brain size. Em, J. H. Cartwright, Evolutionary
Explanations of Human Behaviour, pp.119-132. Hove, UK: Routledge.
Beyerstein, B.L
(2004). Do we really use only 10% o four brains? Scientific
American, 86.
OCDE (2003) Compreendendo o cérebro: rumo a uma nova
ciência da aprendizagem. São Paulo, SP:Editora Senac
Artigo escrito para o
site Akademia (Janeiro 2012, adapt.)