terça-feira, 16 de julho de 2013

Mitos e verdades sobre o cérebro

O cérebro humano vai estabelecendo ligações neuronais ao longo de toda a vida, podendo estas ser potenciadas através de atividades de exercitação e de estimulação cognitiva.

Ao longo dos últimos vinte anos, a pesquisa sobre o cérebro e sobre o seu funcionamento têm sofrido um avanço significativo. Autores como Byrnes e Fox (1998) destacam o impacto que estes avanços têm despoletado no quotidiano, nomeadamente no que toca à estruturação das aprendizagens e à compreensão da dinâmica dos processos de pensamento.
Com o aumento dos conhecimentos neste domínio, o cérebro tem-se tornado tema recorrente em conversas, notícias de revistas e artigos online, permitindo a cada sujeito criar ideias e tecer opiniões relativamente a esta questão. Muito deste conhecimento não é devidamente aprofundado dando lugar a “conceções errôneas” sobre o funcionamento do cérebro que, segundo a OCDE (2003) são classificadas como “neuromitos”. Um “neuromito” pode definido como uma ideia ou opinião que não é fundamentada pelo conhecimento neurocientífico sendo, por isso mesmo, errada (Abimbola & Baba, 1996).
De entre os vários “neuromitos” existentes, há três que se destacam: a existência de períodos críticos, a conceção hemisfério esquerdo vs hemisfério direito e a utilização limitada do cérebro.
O conceito de períodos crítico tem por base a ideia de que a plasticidade cerebral, isto é, o desenvolvimento e a aquisição de competências específicas (como a linguagem e o raciocínio) está limitada aos primeiros anos de idade sendo impossível, adquirir essas competências posteriormente. Contudo, pesquisas contemporâneas defendem a possibilidade dos estímulos ambientais despoletarem novas ligações entre os neurônios e, consequentemente, evidenciam que a plasticidade não é limitada aos primeiros três anos mas que ocorre ao longo de toda a vida, alterando a conceção de “período crítico” para “período sensível” (período em que é mais fácil conquistar certas aprendizagens, sendo possível que essas capacidades sejam desenvolvidas posteriormente).
A ideia de separação funcional do cérebro em hemisfério esquerdo e hemisfério direito, atribuindo a cada um deles um modo de funcionamento próprio com funções específicas separadas tem também sido contraposta. Estudos recentes têm demonstrando que a cognição humana é demasiado complexa para ser controlada por um único hemisfério e que existem redes neuronais em constante comunicação em ambos os hemisférios.
O terceiro “neuromito” prende-se com a limitação do funcionamento da atividade cerebral a 10% do cérebro sem que haja, no entanto, evidências científicas que confirmem este fato – de acordo com os conhecimentos disponíveis, o nosso cérebro funciona a 100%, sendo pouco provável que a evolução permitisse o desperdício de recursos necessários para estruturar um órgão tão ineficiente e apenas parcialmente usado (Beyerstein, 2004).
É ainda de referir, como outro possível “neuromito”, que as lesões cerebrais não são permanentes, isto é, após a existência de um dano cerebral é possível haver recuperação das vias nervosas afetadas, dependendo do local em que ocorre e da severidade da lesão. A explicação deste fato prende-se com a capacidade que o cérebro tem em desenvolver novas conexões, direcionando as funções afetadas para outras áreas saudáveis.
Sintetizando, é de salientar que o treino e a estimulação cognitiva potenciam a plasticidade cerebral, aumentando o êxito dos sujeitos nas várias tarefas e melhorando a eficácia do funcionamento cognitivo (Cartwright, 2001).
- Realize diariamente exercícios divertidos que estimulem as competências cognitivas;
- Faça pequenas pausas para relaxar (10 a 15 minutos) entre as atividades que exigem alto nível de concentração;
- Fomente a leitura diária começando com pequenos textos, que deverão, progressivamente, aumentar em tamanho e em grau de complexidade;
- Incentive a aprendizagem de um instrumento musical ou a realização de atividades desportivas;
- Estimule a realização de atividades de uma forma inovadora e diferente – novos desafios são envolventes

Outras leituras  de referência
Abimbola, I. O., Baba, S. (1996). Misconceptions & alternative conceptions: the role of teachers as filters. The American Biology Teacher, 58(1): 14-19
Cartwright, J. H. (2001). The evolution of brain size. Em, J. H. Cartwright, Evolutionary Explanations of Human Behaviour, pp.119-132. Hove, UK: Routledge.
Beyerstein, B.L (2004). Do we really use only 10% o four brains? Scientific American, 86.
OCDE (2003) Compreendendo o cérebro: rumo a uma nova ciência da aprendizagem. São Paulo, SP:Editora Senac

Artigo escrito para o site Akademia (Janeiro 2012, adapt.)

Um comentário:

  1. Olá Catarina :)

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