Será que as devemos ensinar em casa ou esperar
pela integração das crianças em ambiente escolar?
Hoje em dia, as crianças
desenvolvem-se numa sociedade letrada, com meios tecnológicos muito atrativos,
que despertam a sua curiosidade e a sua vontade de decifrar letras, desde tenra
idade.
As crianças estão em constante
crescimento, interagindo com o mundo que as rodeia em busca de novas
aprendizagens, desafiadas pela sua curiosidade e pela ânsia de conhecer o
contexto do qual fazem parte.
Desde muito novas que o
mundo que as circunda está repleto de letras, palavras e frases, fazendo com
que convivam com a literacia continuamente, desde o seu nascimento.
Paralelamente, a sociedade tecnológica e os brinquedos lúdico-didáticos cada
vez mais informatizados, facilitam e incentivam a alfabetização fora da escola,
nomeadamente apresentando letras e palavras no decorrer das instruções de
funcionamento/de jogo e das atividades a desempenhar. A par com a sua assiduidade
e relevância no dia-a-dia, a aquisição do domínio sobre estas duas competências
é fundamental dado que se tratam de ferramentas imprescindíveis para que as
crianças ampliem as suas possibilidades de entender a realidade e para que
conheçam os seus contextos, já que a maioria da informação com que irão
contactar lhes será apresentada por escrito.
As crianças vão aprendendo
letras e palavras antes mesmo da sua entrada no primeiro ciclo, sendo comum
começar a distinguir marcas e a ler pequenas palavras com que se relacionam
mais frequentemente. Esta proximidade tem levado as escolas a refletir sobre a
idade ideal para a introdução da alfabetização e sobre o tipo de atividades de
pré-leitura e pré-escrita que deverão ser desenvolvidas para estimularem e
motivarem a aprendizagem destes domínios. Durante este período, mais do que
refletir sobre a idade ideal para dar início ao seu processo de alfabetização, é
fundamental analisar e cultivar a motivação em interagir com as letras e
palavras e procurando decifrá-las sem obrigar as crianças a aprender. Desta
forma, é tão contraproducente forçar crianças até aos cinco a ler e escrever
como impedir as que estão motivadas de explorar as bases da leitura com receio
de que se possa vir a desmotivar mais tardiamente - mais importante do que a
idade é a vontade de cada criança de se alfabetizar.
A alfabetização exige um
determinado estádio de maturação neuropsicológica e não convém força-las a
adquirir uma habilidade para a qual não estão ainda preparadas. Nestes casos o
mais adequado será estimulá-las recorrendo a atividades lúdico-didáticas, que as
envolvam e as motivem para a aprendizagem destas competências. A leitura e a
escrita requerem a maturação de estruturas cerebrais distintas, que implicam
ver os símbolos, interpretar as letras, ouvir o seu som correspondente,
decifrar o seu significado e organizar a forma como são pronunciadas e que têm
de funcionar de forma coordenada. É em idades mais precoces, dada a
plasticidade cerebral e o potencial de aprendizagem de cada criança, que se
deve dar início ao processo de alfabetização, estimulando de forma lúdica e
divertida as competência de pré-leitura e pré-escrita, recorrendo a atividades cuidadosamente
pensadas e adequadas, que fomentem o desenvolvimento do vocabulário, da
consciência fonológica e do conhecimento das letras.
A leitura é também uma das
ferramentas que mais condiciona o seu sucesso uma vez que é a competência base
para todos os seus anos escolares – é ao longo dos primeiros anos, a partir das
experiências que vivenciam, que as crianças desenvolvem e estruturam as
capacidades que usarão como base das suas aprendizagens futuras, nomeadamente
no que toca à construção de um percurso escolar de sucesso. Aprender a ler
permite à criança aprender a decifrar todos os carateres que vêm impressos nos
manuais académicos e, consequentemente, conhecer o mundo e formar-se
profissionalmente. Um estudo internacional sobre literacia em crianças e
jovens, levado a cabo pela OCDE, evidenciou que Portugal se encontra abaixo das
médias europeias dos países desenvolvidos, estando latente no estudo que os
conhecimentos e competências neste domínio aquando da entrada para a
escolaridade básica são, em muitos dos casos, insuficientes. Segundo o mesmo
estudo, estes resultados culminam em elevadas taxas de insucesso e de abandono
escolar que poderiam ser minimizados com o desenvolvimento de programas de
literacia no jardim-de-infância (mais do que ensinar a ler é fundamental ensinar
a gostar de ler). De acordo com o mesmo estudo, as crianças que possuem mais
conhecimentos sobre as regras do texto escrito tendem a obter melhores
resultados a nível do vocabulário, da consciência fonológica e da identificação
de letras, sendo possível estabelecer uma associação positiva entre a qualidade
da estimulação pré-escolar e o desenvolvimento de algumas competências de
literacia.
Independentemente dos métodos usados na
escola, a atuação dos pais é decisiva para as crianças - pais que apreciam ler
e escrever e incentivam os seus filhos a gostar estão a contribuir para que
estes se tornem leitores de sucesso.
A aprendizagem
precoce das primeiras letras tem suscitado alguns mitos relacionados com o tema.
O mais frequente prende-se com a possibilidade da criança vir a desmotivar-se
no primeiro ano, por já saber ler. Embora isto possa acontecer uma vez que a
criança já domina alguns dos conteúdos que estão a ser explorados, é mais
desmotivante não conseguir acompanhar as novas aprendizagens e não experimentar
a sensação de sucesso (fundamental para a construção da sua autoestima e
autoconceito). Cabe ao professor gerir as aprendizagens de cada aluno em
ambiente de sala (esta criança pode ficar como tutora de um colega com mais dificuldades,
por exemplo) e aos pais continuarem a estimular e a desafiar a criança nesta
área específica (através de atividades para realizarem fora do ambiente
escolar). Um outro mito prende-se com a possibilidade da criança vir a
desenvolver problemas de leitura, no entanto a probabilidade de isto poder vir
a acontecer é muito maior em alunos que não tenham adquirido as competências de
pré-leitura ao longo dos anos que antecedem a sua entrada no primeiro ciclo.
Estratégias para estimular
a aprendizagem da leitura
- Fomentar o gosto pela leitura, lendo
histórias com a criança, em situações diversificadas e usando diferentes
materiais (livros de histórias, jornais, revistas, embalagens, textos da
internet, bandas desenhadas, sequências de imagens);
- Criar a hora da leitura em
família, em que cada um dos elementos dedica algum tempo a ler (seja um livro,
uma revista ou o jornal) - a aprendizagem pelo exemplo é a mais significativa;
- Demonstrar a importância
das palavras no dia-a-dia, dirigindo a atenção da criança para a observação de
situações de escrita no mundo real;
- Estimular a criação de
histórias a partir de imagens ou de frases que lhe são ditas;
- Potenciar a consciência fonológica
através de jogos de palavras, nomeadamente, pedindo à criança que descubra palavras
que comecem ou terminem com o mesmo som, que reproduza lenga-lengas e rimas ou que
complete poemas.
A alfabetização é um
processo que se inicia desde tenra idade e que se encontra em constante
desenvolvimento e construção. É fundamental estimular a criança a contactar com
letras e palavras e promover a leitura e a escrita de forma a potenciar o seu
gosto pela temática e desenvolver a sua motivação para novas aprendizagens. Por
contraponto, se a criança for forçada a aprender, tal facto poderá desmotivá-la
e despoletar uma barreira face à escola.
Para ser um leitor
bem-sucedido é importante que a criança domine varias convenções, nomeadamente
dos conceitos sobre escrita, da consciência fonológica e da identificação de
letras, cujo conhecimento parece ser produto de múltiplas experiencias de
literacia.
Artigo publicado na revista Mãe Ideal (Mar, 2013)
Concordo inteiramente com o que escreveste porque estou a observar essas reações com o meu neto que acabou de fazer 4 anos. Ele vai aprendendo algumas palavras que "precisa" para as suas brincadeiras.Ele já escreve sozinho a passWord para abrir o meu computador, depois vai ao google e escreve pequenas palavras para abrir os pequenos filmes como "faisca" , "bob", ... E nem imaginas como ele fica contente quando já não precisa de mim para escrever.Também reconhece muitas palavras ligadas maioritariamente à publicidade. Eu só vou colaborando com as suas solicitações.
ResponderExcluirPARABÉNS pelo artigo.
À medida que o ia lendo estava sempre a ver ali o meu neto. Tudo muito igual à realidade.
Força Catarina. Gosto muito de ler as tuas publicações. Continua assim que vais muito bem.
Maria Do Carmo