sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Parto: E se o pai não quiser assistir?



A gravidez, o parto e a educação dos filhos foram, durante muito tempo, tarefas destinadas unicamente às mulheres, das quais os homens eram socialmente excluídos e apartados. No entanto, ao longo dos últimos anos, o papel do pai tem vindo a ganhar importância, sendo atualmente visto como uma peça fundamental para o desenvolvimento equilibrado e harmonioso dos seus filhos.
E a tarefa de ser pai não começa apenas após o nascimento. Desde que o casal descobre que engravidou que o pai deve assumir um papel presente, ativo e construtivo, não só procurando estabelecer a relação com o bebé ainda in útero: mexendo na barriga da mamã e falando com a criança, por exemplo; como também apoiando a companheira e partilhando com esta os vários momentos da gravidez: desde a primeira ecografia, até ao nascimento do tão esperado bebé.
Este envolvimento é particularmente importante se tivermos em consideração que um pai que participa ativamente, juntamente com a companheira, na gestação do filho faz com que o casal esteja mais motivado para desenvolver competências cognitivas e relacionais em família, tendo por isso maior probabilidade de vivenciar as várias etapas desta experiência de forma positiva.
De entre as várias etapas da gravidez, uma das mais cruciais e aguardadas é o momento do parto: finalmente os pais vão poder agarrar o seu bebé, embalá-lo e olhar para ele. É um dos momentos mais intensos da vida do casal em que este se confronta pela primeira vez com as expetativas que foi criando ao longo de 9 meses sobre o seu bebé e as características que ele realmente tem após os vários meses de gestação. O parto é então o início de uma longa caminhada para o bebé e para os pais, fora do conforto do colo materno.
O papel do pai durante o parto também tem vindo a sofrer alterações ao longo dos últimos anos especialmente na nossa cultura. Se durante muitos anos o parto era um momento exclusivamente feminino em que o pai ficava confinado aos corredores do hospital a aguardar ansiosamente o primeiro choro do filho, nos nossos dias a maioria dos pais opta por ultrapassar a barreira da sala de partos e presenciar o nascimento do seu bebé.
E se é inegável a importância da mãe ser acompanhada por uma pessoa significativa ao longo do parto, que lhe proporcione apoio emocional e que permita que esta se sinta acompanhada, nem todos os homens se sentem preparados para desempenhar este papel junto da companheira.
O papel do pai como acompanhante e fonte de apoio é relativamente recente na nossa sociedade,  A sua presença, aquando do momento do nascimento do bebé, tem sofrido inúmeras controvérsias e muitos ainda se estão devidamente preparados e motivados para assistir ao momento do nascimento e fazer face às expectativas das companheiras. Sem dúvida que as aulas de preparação para o parto são um contributo indispensável, uma vez que ensinam estratégias que funcionam como facilitadores da preparação dos homens para apoiar a companheira no trabalho de parto e permitem ao casal esclarecer um sem número de questões em torno desta (e de outras) matéria.
Embora a maioria das maternidades e hospitais apoie e incentive a presença do pai na sala de partos, nem todos os casais optam pela sua presença no momento do nascimento, sendo fundamental que o casal converse abertamente sobre as suas dúvidas e receios e que veja até que ponto a presença do pai é um desejo de ambos. E é essencial respeitar o desejo de ambos!
O desentendimento no que toca a esta matéria não deve desapontar nenhum dos dois – o nascimento de um filho deve unir o casal e não apartá-lo ou ser motivo de discussões.
No caso de a companheira optar por estar sozinha (por, por exemplo, achar que o pai só iria atrapalhar) ou ter por companhia alguém que já passou por essa experiência (como a sua mãe ou uma grande amiga), o pai deve esforçar-se por perceber e procurar envolver-se nas demais situações de preparação do parto.
Caso o pai não deseje assistir, é muito importante que a mãe respeite essa posição. Para alguns homens é extremamente penoso, podendo chegar a ser traumático, assistir a um momento em que quer a companheira está sujeita a um elevado sofrimento, e toda a beleza do significado do nascimento é suplantada pelas imagens de angústia e ansiedade do parto em si.
O trabalho de parto nas suas várias etapas (o rebentar das aguas, as contrações, a respiração, o nascimento do bebé, o cortar do cordão umbilical, entre outras), são momentos em que a maioria dos homens se sente pronto à-vontade, podendo também experienciar sensações de desconforto, frustração e impotência diante das condicionantes e da dor da companheira.
Os relatos de experiencias menos bem-sucedidas, bem como as cenas das telenovelas e dos filmes que retratam a parte dolorosa e penosa dos partos são muitas vezes dois dos fatores que aumentam o receio do pai em estar presente. E se por um lado é importante falar abertamente das situações que mais o poderão perturbar nessa altura no sentido de diminuir os seus possíveis “fantasmas” também é fundamental respeitar a sua decisão a bem de não criar maior tensão entre o casal. É ainda importante referir que o facto de o pai não estar presente não vai condicionar o seu desempenho futuro como pai.
A presença do pai na sala de partos deve ser uma mais-valia e não um obstáculo que dificulte o momento. Lembrem-se que a chave do entendimento é o diálogo e que o nascimento de uma criança não deve ser fator de discórdia mas de união.

Se o pai já decidiu que não quer estar presente deve:
- falar do assunto o quanto antes, adiar só vai criar falsas expetativas e dificultar ainda mais a conversa;
- ser sincero quanto aos seus motivos sem medo de expor as suas fraquezas, medos e inseguranças face ao momento do parto;
- não usar falsos argumentos que podem facilmente ser percebidos e só vão criar desarmonia entre o casal;
- apoiar e estar presente nas demais situações, partilhando os momentos que antecedem e precedem o nascimento;
- encorajar a sua companheira a encontrar estratégias para que lide com a situação sem a sua presença;
- encontrar outra pessoa do círculo próximo de confiança que presencie o parto, se assim decidirem.

Mãe, é importante que:
- aceite as razões do seu companheiro, procurando respeitar os seus argumentos;
- valorize os seus medos e receios tentando encontrar resposta para os mesmos;
- procure uma pessoa da sua confiança e estima que a possa acompanhar ao longo do parto, se achar preferível;
- envolva o seu companheiro nos demais momentos da gravidez – é fundamental que o pai esteja presente e a acompanhe a si e ao bebé.

O nascimento de uma criança é muito mais do que as horas na sala de parto, é uma tarefa que começa com o planeamento da gravidez e que se estende para toda a vida.
Mesmo decidindo não assistir ao parto é fundamental ser ativo no papel de pai, estando presente nas ecografias, nas aulas de preparação e nas consultas de obstetrícia e estando envolvido nas decisões que possam aparecer ao longo da gravidez.
Um pai presente tem ainda a oportunidade manifestar as suas dúvidas e receios e encontrar respostas para as mesmas de modo a sentir-se mais seguro e confiante no seu novo papel.
Artigo publicado na revista Mãe Ideal (Nov 2012)

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