A memória é uma das nossas
“ferramentas” mais importantes, sendo essencial para a nossa ambientação ao
meio e para nosso crescimento/desenvolvimento. Como poderíamos viver se não conseguíssemos
aprender nada do que experienciamos?
A memória é uma palavra
utilizada frequentemente no nosso dia-a-dia em frases como, por exemplo, “tenho
uma memória de elefante”; tens lembrança de peixe” ou até “tive uma branca e
não me lembrei de nada!”, na maioria dos casos, sem que pensemos no seu
significado.
Ao falar de memória, mais
do que analisar o seu funcionamento, devemos procurar compreender o seu impacto
na construção de cada ser humano. A memória está relacionada com o nosso quotidiano,
servindo de base (mesmo que inconsciente) para as nossas tarefas e atividades
e, sem ela não poderíamos recordar as coisas de que gostamos (para podermos
repetir), as de que não gostamos (para tentar evitar), onde moramos e até quem
somos.
A
memória é uma das funções cognitivas com maior importância na construção da
aprendizagem uma vez que é a partir da informação que nós memorizados que vamos
adquirindo conhecimentos que servem de base ao nosso desenvolvimento enquanto
pessoas: linguagem, pensamento, cultura e conhecimento.
A
informação que vamos guardando no nosso “arquivo mental” vai sendo acedida pela
mente de forma seletiva, de acordo com os nossos padrões de interesse e
motivação havendo, deste modo, uma maior facilidade em assimilar os conteúdos
que queremos aprender e para os quais estamos atentos.
Ao
longo do processo de memorização, é frequente a existência de lapsos de memória
que interferem significativamente na vida quotidiana, e que, por vezes, são causadores
de ansiedade e mal-estar.
Sendo
a base de conhecimento a memória deve ser trabalhada e estimulada.
Memória
e desenvolvimento infantil
A memória desenvolve-se a
partir da interação entre aspetos biológicos e sociais, tendo inicia na fase
pré-natal. Após o nascimento, a memória representa uma das principais funções
mentais e determina a forma como o indivíduo se irá desenvolver ao longo da sua
vida.
É durante os primeiros
anos de vida que a exploração do mundo pela criança é maior e mais intensa, e é
também nesta fase que a sua memória “terá que trabalhar mais arduamente” – há
mundo inteiro para conhecer, assimilar e recordar sempre que necessário. Sem o
recurso à memória a criança (e não só) estaria a ver sempre tudo pela primeira
vez, não lhe sendo possível aprender a lidar com os perigos ou optar pelos
jogos de qua mais gosta em detrimento de outros.
Segundo estudos na área
das neurociências é nos primeiros anos que a criança forma a sua rede de
conhecimentos, que lhe servirá de base para as suas aprendizagens futuras,
sendo fundamental estimular a capacidade de memorização desde tenra idade. No
entanto, muitas vezes as crianças têm dificuldade e organizar e categorizar a
informação que memorizam sendo fundamental que sejam orientados e
supervisionados pelos seus adultos de referência no seu processo de
conhecimento do seu entorno.
Memória
e aprendizagem escolar
A memória e a aprendizagem
estão intimamente relacionadas e são processos complementares - sem capacidade
de reter e recordar a informação os processos de aprendizagem estariam sempre a
iniciar-se. É a memória que permite que as aprendizagens sejam assimiladas e
que possam ser usadas quando necessário.
Sem memória, os processos
de aprendizagem estariam sempre a iniciar-se, pondo em causa a adaptação do ser
humano ao seu meio, uma vez que é com base nas aprendizagens anteriores que se
processam as novas aprendizagens.
Também na aprendizagem
escolar a memória assume uma função preponderante – é uma componente
fundamental nas tarefas de compreensão verbal e escrita, no cálculo e
raciocínio e está na base de algumas diferenças significativas no desempenho
dos alunos nas tarefas escolares.
Segundo demandas
crescentes da neuropsicologia do desenvolvimento, a memória tem impacto direto
no processo escolar, e as suas falhas podem provocar prejuízos no processo de
aprendizagem, na leitura e compreensão de um texto, e na resolução de problemas
de matemática, assim como na aquisição e na produção de vocabulário.
Quando se verifica que a
há lapsos de memória e que estes condicionam a aprendizagem, é importante
recorrer a ajuda especializada, uma vez que após um programa de estimulação
adequado estes podem ser minimizados.
Segundo Marcelo Rebelo de
Sousa, a memória poder ser trabalhada/educada, fomentando atividades que
melhorem o aproveitamento das capacidades mentais, tais como a leitura, a
realização de palavras cruzadas ou de jogos de memória.
Surge desta forma a
necessidade de exercitar o cérebro, evitando ou diminuindo os efeitos do
cansaço, através do recurso a jogos e desafios que estimulem várias áreas
cerebrais em simultâneo, ampliando o alcance da ação mental. Deste modo,
treinando-nos a organizar, compartimentar e subdividir informação, aumentamos a
nossa capacidade de aquisição de conteúdos.
Através da exercitação é
possível potenciar a forma como se memorizam os conceitos bem como a rapidez do
raciocínio e o recurso à lógica na resolução de problemas. Atividades como
quebra-cabeças, palavras cruzadas, exercícios de memória e várias espécies de
testes, estimulam os cinco sentidos, promovendo o estabelecimento de
associações entre diferentes tipos de informação, melhorando subsequentemente a
capacidade de memorização ao desenvolver deliberadamente novos padrões.
Estratégias a implementar:
-
observar atentamente uma imagem e, posteriormente, tentar recordar os vários
pormenores da mesma;
-
associar ideias ou palavras, estabelecendo uma relação entre elas;
-
relatar pormenorizadamente uma situação vivenciada nesse dia, recordando as
imagens, os sons, os odores, os paladares e as sensações a ele associadas;
-
ouvir uma sequência de ritmos e repeti-la;
-
procurar construir mnemónicas divertidas com algumas frases à escolha;
-
ouvir uma notícia do telejornal e ter que a relatar à hora do jantar.
Nota: As atividades podem ser implementadas sob a forma de
jogos, de modo a torná-las mais aliciantes.
Como potenciar a memória:
-
procure interessar-se pelos temas que pretende memorizar – lembramo-nos melhor
do que gostamos e do que nos causou interesse;
-
apreenda a matéria num contexto, evitando estudar/memorizar itens isolados –
quando associamos a matéria a conteúdos que já conhecemos é mais fácil reter a
informação nova;
-
associe representações visuais aos objetivos ou ideias a apreender – quantos
mais sentidos usar para reter a informação mais fácil será recordá-la;
-
exercite a memória através de pequenos exercícios: recordar pormenores do seu
dia (imagens, sons, paladares, odores ou sensações);
-
desenvolva atividades onde se valorize a reflexão e a recordação de
ideias/acontecimentos;
-
estabeleça relações mentais entre novos conhecimentos novos e os já adquiridos
a partir de associações de ideias;
-
aprenda através de mnemónicas: estratégias facilitadoras da recordação;
-
recorra a notas e a apontamentos para reter informação menos pertinente – não
sobrecarregue a memória com informação desnecessária;
-
estabeleça novas rotinas – desta forma está a dar ao cérebro nova informação
para organizar e estará a estimular a memória.
Artigo publicado na revista SuperBebés (dez 2012)
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