Ter
instinto maternal não significa ser uma mãe perfeita e fazer tudo bem à
primeira. É um impulso sentido pela maioria das mulheres que as leva a
responder às necessidades do filho que acabou de nascer, segundo vários graus
de intensidade e dependendo das características de ambos.
Ser mãe é, para muitas
mulheres, o grande sonho/objetivo das suas vidas que começa desde tenra idade e
se espelha na forma como, ainda meninas, cuidam e mimam as suas bonecas, as embalam
para as “adormecer”, as alimentam com comida faz de conta e as vestem com
roupas bonitas aconchegantes. Existem meninas tão apegadas às suas bonecas que
só a ideia de se apartarem delas, mesmo que por breves instantes, é deveras
perturbador.
Embora ser mãe não seja o
mesmo que brincar às bonecas, muitos dos impulsos de cuidar representados pelas
meninas nas suas brincadeiras refletem os comportamentos base da maternidade.
Cuidar, alimentar, proteger e ajudar a crescer e a tornar-se autónomo são
algumas das tarefas que é esperado que a mãe desempenhe junto do seu bebé para
que este se vá desenvolvendo de forma saudável, equilibrada e feliz.
Ao contrário de tantas
outras tarefas que se podem aprender na escola, não há aulas que ensinem uma
mulher a ser mãe (embora já existam aulas que ajudam os futuros pais a lidar
com alguns momentos da maternidade) nem tão pouco é algo que se aprenda lendo
livros ou vendo documentários - é algo que se compreende e se melhora com a
experiência da maternidade em si mesma. Algumas mulheres demonstram uma
vocação inata para serem mães, que parece
que foram talhadas para serem mães, e outras adquirem-na com a prática e com o
treino.
A propensão que algumas
mulheres demonstram para cuidar e proteger os seus filhos é muitas vezes
chamada de instinto maternal e envolve o conjunto de ações que as leva a
responder às necessidades do bebé de uma forma inata/ instintiva. Este é
considerado latente nas mulheres desde tenra idade e é a ele que se deve a
disponibilidade para prestar atenção aos seus filhos, garantindo as
necessidades básicas ao seu desenvolvimento e, consequentemente à subsistência
da sua espécie.
O instinto maternal está
presente nas várias espécies e prende-se com o impulso que leva as
mães/progenitoras a assegurar as necessidades básicas dos seus recém-nascidos
de modo a assegurar a continuação da espécie. Ao seu encargo fica a
alimentação, o aconchego e a proteção dos seus bebés de modo a que estes possam
crescer e tornarem-se independentes do seu cuidado. Nos seres humanos, contudo,
o instinto maternal não se extingue no momento em que a mãe deixa de amamentar,
ele estende se ao longo da vida e acarreta questões biológicas,
psicológicas, sociais e culturais, talvez porque de entre os vários
recém-nascidos o bebé humano é o mais dependente dos cuidados e atenções da sua
mãe ou talvez devido ao impacto da na nossa cultura e dos valores sociais na
construção da ideia de instinto maternal.
Tendo também base
cultural, o instinto maternal tem vindo ajustar-se às mudanças na sociedade,
nomeadamente no que se refere ao papel das mulheres como mulheres,
trabalhadoras e mães. A integração das mulheres no mundo profissional e a
frequente aposta no crescimento e consolidação de uma carreira, tornou usual o
adiar do relógio biológico no que toca à maternidade uma vez que existe uma
coincidência entre os melhores anos na vida da mulher para ser mãe e para a
construção e consolidação de uma carreira. Paralelamente a mulher deixou de ser
vista só como mãe e cuidadora e muitas optam hoje por não considerar a
maternidade como um objetivo de vida independentemente de sentirem ou
não instinto para tal e também esta opção deve ser respeitada.
No entanto o instinto
maternal não está só diretamente relacionada com o facto de ter sido mãe.
Muitas mulheres sentem este impulso junto de crianças mesmo antes de gerarem o
seu primeiro filho. Tal facto explica a razão da existência de instinto
maternal nas mães adotivas – embora não tenham concebido a criança desenvolvem
o impulso de cuidar e proteger o filho que acolhem por sua vontade.
Instinto Maternal vs Amor Maternal
Embora usados para se referir à mesma situação, o
instinto maternal é diferente do amor maternal uma vez que o primeiro diz
respeito à capacidade de assegurar a sobrevivência física do recém-nascido, o
segundo é uma construção afetiva continua e continuada entre a mãe e o seu
bebé. O “amor maternal” pode ser definido como o conjunto de sentimentos e
afectos entre a mãe e o filho que traduz uma relação de carinho e ternura,
enquanto o “instinto maternal” pode existir na mulher em presença de uma criança, independentemente de
ser ou não mãe.
Ideialmente, no momento em que a criança nasce, o amor
e o instinto maternal estão em sintonia na mãe e, enquanto o instinto se vai tornando mais ténue ao longo dos anos, o
amor, por contraposto, vai aumentando e perdura para toda a
vida. Existem no entanto alguns casos em que tal não se verifica e a mãe é uma
excelente cuidadora mas tem dificuldade em gerir e demonstrar o seu afeto para
como o seu filho ou pelo contrário, que tem “um amor do tamanho do mundo” mas
evidencia menos facilidade em cuidar do seu bebé.
No caso de um dos dois não estar desenvolvido é
importante que a mãe se treine quer para desempenhar as tarefas do cuidar
(alimentar, dar banho, mudar a fralda) quer em estabelecer com o seu bebé uma
relação de afeto (valorizando os momentos de toque, o olhar e a conversa com
este).
Os
homens também têm instinto maternal?
Pensar em instinto maternal leva-nos a considerar a
maternidade biológica como a base e, por isso mesmo, algo que consideramos
exclusivo das mulheres. No entanto os homens também podem ter gestos de ternura
e de cuidado, que muitas vezes reprimem por socialmente se considerarem
atitudes pouco masculinas.
Quando o pai assume um papel activo como cuidados
poderá fazê-lo tão bem como a mãe, facto que tem levado a que alguns pais
fiquem com a custódia dos filhos aquando
das separações. Quando um homem e uma mulher se tornam pais,
ambos são igualmente responsáveis pelos cuidados dos seus filhos.
Mitos
sobre o instinto Maternal
De entre os vários mitos sobre instinto maternal, a
forma de brincar das meninas pequenas é frequentemente associado ao seu futuro
comportamente como mãe. Há quem diga que a forma como cuidam das bonecas é um
otimo indicador de instinto maternal, em contraponto com gostarem de “brincadeiras
de rapaz”, que é sinal que virão a ser más cuidadoras. No entanto não há
qualquer relação entre os dois acontecimentos - há meninas que nunca brincaram
com bonecas e se revelam mães fantásticas e há meninas que brincaram imenso às
casinhas e o seu instinto maternal não é tão notório ou decidem não ter filhos.
Um outro mito diz respeito à relação que cada mulher
estabeleceu com a sua mãe durante criança e como isso
a influenciará como mãe. Embora seja aceite que estabelecemos os
nossos padrões comportamentais precocemente, mulheres que vivenciaram situações
menos construtivas podem tornar-se excelentes cuidadoras, procurando não
transmitir aos filhos as lacunas que sentiram enquanto crianças.
Outras, vez sua vez, foram crianças muito amadas e acarinhadas mas revelam-se
adultas frias e distantes.
O terceiro mito refere-se ao facto do instinto
maternal, enquanto impulso para cuidar de crianças pequenas e forma de
expressar o desejo de conservar e promover a vida, é algo exclusivo
das mulheres. Se por um lado as mulheres têm o privilégio de gerar e dar à luz,
o impulso base do instinto maternal pode ser visível em alguns
pais/homens.
Importa ressaltar que ninguém “nasce ensinado” e,
deste modo, embora para muitos o instinto maternal seja um impulso inato, pode ser
melhorado e aperfeiçoado com o treino e com a prática – não se nasce pronta
para ser mãe, mas todas as mulheres se podem preparar para o serem!
Artigo publicado na revista Mãe Ideial (Jan 2013)
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