É na primeira infância que as crianças
adquirem as competências base das suas aprendizagens futuras, nomeadamente no
que toca à gestão dos seus afetos e ao
estabelecimento das suas relações interpessoais.
A capacidade de criar laços e de
estabelecer ligações com os outros começa desde muito cedo, do contato com as pessoas
do círculo familiar mais intimo, que são a base das primeiras relações e que
são essenciais ao desenvolvimento psicológico e social de cada individuo. No
entanto também a entrada para o jardim-de-infância é um marco muito importante no
desenvolvimento emocional, uma vez que é neste contexto que a maioria das
crianças começa o seu processo de socialização fora do ambiente familiar – é
aqui que começam a construir as primeiras relações com o seu grupo de pares.
Estas amizades com meninos e meninas
da mesma idade são fundamentais para o desenvolvimento saudável e equilibrado de
cada um, uma vez que permitem que as regras sociais sejam adquiridas através da
brincadeira, de uma forma lúdica e inconsciente, em interação com os outros. È
através dos jogos com os “amiguinhos” que cada criança vai aprendendo ou
consolidando a noção de ganhar e perder, decerto
e errado e que vai desenvolvendo a capacidade de compreender e aceitar o ponto
de vista dos outros. É também neste contexto que vão construindo a sua
autonomia pessoal e que vão aprendendo a importância de partilhar e de
compartilhar brinquedos, experiências e a atenção da educadora.
Desta
forma, em interação com o grupo de pares, a criança começa a estabelecer os
limites do seu próprio comportamento e aprende a relacionar-se de uma forma
positiva e construtiva com eles. È também em contexto relacional que aprende a lutar
pelas coisas de uma forma ajustada, a tolerar a frustração e a desenvolver
estratégias de comunicação verbal e não- verbal.
Estas
várias aprendizagens dão se ao longo do tempo, e deve dar-se espaço à criança
para que possa aprender a encontrar o equilíbrio das suas relações gradualmente, muitas vezes, por tentativa e erro, até que encontre
o seu lugar no grupo e defina a forma como interage e como se comporta nas
situações sociais – e é desta forma que vai dando inicio à construção da sua
personalidade.
A capacidade de estabelecer relações de amizade nas crianças vai mudando
ao longo do seu crescimento de acordo com as várias características do seu
desenvolvimento. Até aos dois anos a maioria demonstra dificuldade em fazer
amigos, principalmente se isso implicar partilhar com estes os seus
brinquedos. A partir dos dois/três anos, a criança vai percebendo as vantagens de brincar com
outras crianças, começando inicialmente por preferir brincar com uma de cada
vez..
As crianças que frequentam
o jardim-de-infância demonstram maior facilidade em assimilar as regras sociais
e afetivas e adquirem as noções de respeito pelas necessidades e direitos dos
outros mais rapidamente.
O IMPACTO DOS PAIS NAS NOVAS
RELAÇÔES
Os
pais são os primeiros modelos relacionais dos filhos uma vez que são as pessoas
que as crianças observam e imitam desde pequeninos. É com os pais que as
crianças aprendem a fazer amigos e a integrarem-se nos meios sociais à sua
volta: crianças cujos pais têm um circulo de amigos alargado e com o qual despendem
bastante tempo tendem a procurar fazer amigos com vais vontade do que crianças
que vêm de famílias com um grupo de amigos mais restrito.
Para
além da aprendizagem pelo exemplo, os pais assumem um papel importante na forma
como incentivam os seus filhos a interagir com as outras crianças não só através
da procura de atividades nas quais lhes permitam o contacto com o seu grupo de
pares como também na forma como supervisionam e acompanham as brincadeiras dos
seus filhos. Os pais têm um papel fundamental na aquisição das regras sociais e
no estabelecimento de limites aos comportamentos dos seus educandos.
Os
pais devem ainda fomentar e dar exemplos de brincadeiras construtivas que
possam ser feitas em grupo, com outras crianças, e que permitam o
estabelecimento de laços de afeto entre elas. O tempo de qualidade que os pais
têm junto dos filhos é de extrema importância enquanto momento de partilha de
experiencias e de transmissão de exemplos construtivos, positivos e ajustados.
AMIGOS IMAGINÁRIOS
É
frequente para muitas crianças brincarem e conversarem sozinhas (solilóquio) como
se estivessem na companhia de uma amigo, deixando os pais preocupados. Os
amigos imaginários podem surgir enquanto amiguinhos invisíveis ou bonecos com
os quais as crianças interagem como se fossem humanos, atribuindo-lhes
pensamentos, comportamentos e sentimentos, tais como os demais amigos.
Por
muito que pareça preocupante, o amigo imaginário incentiva o desenvolvimento
criativo, emocional e intelectual uma vez que através das
brincadeiras de faz de conta a criança vivencia sua realidade, elabora
conflitos, angustias e procura encontrar a solução para as questões com que se depara.
A
maioria das crianças vai reconhecendo a diferença entre a fantasia e a
realidade sem ser preciso a ajuda dos pais, e estes não se devem preocupar
excessivamente desde que este “amigo” não impeça os seus filhos de brincar e de
se relacionar com outras crianças reais e desde que este amigo não se mantenha
para além da fase da pré-adolescência. Nestes casos pode ser aconselhável
procurar a ajuda de um especialista.
Algumas ideias para fomentar as relações de amizade das crianças:
- Passe tempo de qualidade com o seu filho,
valorizando os comportamentos e as reações sociáveis e ajustadas;
- Procure ensinar através do exemplo, demonstrando
ao seu filho como começar e cultivar amizades, valorizando o seu grupo de
amigos e os momentos que têm juntos;
- Dê exemplos de comportamentos que envolvam o
conceito de amizade para que a criança tendo noção do que pode ou não esperar
de um amigo;
- Organize programas de fim-de-semana nos quais o
seu filho possa estar com os amigos ou conhecer pessoas novas. È muito
importante que não force possíveis relações de amizade do seu filho, mas que
lhe dê espaço para poder escolher os seus próprios amigos;
- A não ser que seja mesmo necessário, não
interfira nas brincadeiras entre o seu filho e os amigos. È fundamental que
este aprenda a resolver os pequenos problemas que vão aparecendo no decorrer
das brincadeiras;
- Nos momentos de convívio evite a televisão e
opte por atividades de grupo: para além de desenvolverem outras competências
como a imaginação e a criatividade, também fortalecem as relações
interpessoais.
A forma privilegiada das crianças
aprenderem é através das suas brincadeiras, por isso procure atividades
lúdicas, que lhes permitam explorar as regras e os limites da convivência com
os outros.
Ser sociável desde cedo ajudará o seu
filho a ter uma vida social ativa e a desenvolver as suas competências de
relação e de comunicação com os outros. Deste modo estará a contribuir para que
se torne um adulto mais seguro, com melhor autoestima, e mais preparado para enfrentar
situações de interação/exposição social.
Publicado na revista Mãe Ideial (ed Outubro 2012)
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